Lembranças

Acabo de olhar a estante do meu quarto - reparo a quantidade de livros que nela reside - penso que cada um deles comigo esteve, sustentou meus ideais em momentos terrenos e etérios.

A quantidade de páginas descomunal para um quarto de um adolescente (conforme sou com metade dos 24 anos completos). Um me chama o interesse, novamente, como de costume outros assim fizeram: A Metamorfose, Franz Kafka, tradução de Modesto Carone (pois, originalmente foi escrito em alemão), da editora Companhia das Letras (formosa por publicar livros de Prêmio Nobel).

Muitos anos após ler esse livro, que conta a história de alguém que virou bicho, retiro este exemplar da estante apenas para ler sua dedicatória escrita na contracapa - "Ricardo: Obrigada por ser uma das pessoas que entende as metamorfoses constantes que são o meu humor e a minha vida! Você é um grande amigo! (Parabéns atrasado) Mariana 16/09/02 (Háháhá, desculpa! Eu não sabia que você já tinha ...)"

Tudo escrito pelo próprio punho da autora do pequeno trecho. Letrinha redonda e os últimos dizeres escritos com lápis. Provavelmente, imagino eu, devo ter deixado escapar que em casa havia o livro dado. Não sabia a presenteadora que grande parte dos livros que preenchem minha casa são de minha mãe. Agora, ou melhor em setembro, recebera das mãos de uma das melhores escritoras que conheci, o meu exemplar de A Metamorfose.

Que saudade dessas letras redondas, que concretizavam os mais nobres pensamentos e desencontros de uma adolescência boa. Quanto prezo por algum dia saber notícias de Mariana de suas palavras, poemas e qualquer outra manifestação literária.

Acho que toda vez que sinto falta dos nobres momentos que passei com ela abro meu exemplar de Franz Kafka, leio a dedicatória, sinto um vazio, penso em Mariana, sinto outro vazio, lembro daqueles tempos, sinto mais um vazio, fecho o livro, o vazio continua...

Nós mudamos, Mari, sofremos metamorfoses e sou grato por ter entendido algumas das suas. Espero que esteja bem e que algum dia eu possa ler, novamente, palavras vindas de uma das melhores escritoras que já li, e, que algum dia, me declarou como grande amigo.