Monday, December 10, 2007

Contos de Escalada

Escalador 1
parte 1

Guilherme, nascido no antro da escalada do seu país natal, foi abençoado ao conhecer o esporte com apenas dez anos de idade.
Essa história serve para traçar os primeiros passos de um garoto que via as pedras de forma diferente.
Nascido em família pobre, quase sem futuro, foi conhecer o esporte de forma acidental. Desde seus sete anos de idade ajudava a família de seis irmãos a cuidar das terras de um primo de seu pai. Fazenda de gado, coisa pouca, fácil de cuidar. Senhor Emanuel era o dono da família, leal e competente ensinava os filhos a como ostentar o ofício que iria sustentar todos durante o resto de suas vidas.
Guilherme sempre no final da tarde, depois de assistir aula logo de manhã e, depois do almoço ajudar o pai e os irmão na fazenda, gostava de ver o por do sol de cima das pedras que ficavam de um lado esquecido da fazenda. Para ele a diversão era subir a pedra mais difícil, pois lá de cima o por sol seria mais bonito. Com o passar dos tempos a brincadeira tornou o por do sol mais bonito, afinal, cada vez a subida tornava-se mais difícil. A evolução do garoto era indomável e desconhecida para ele próprio. Sendo tão determinado como era, alguns dias o por do sol não podia ser visto pelo simples fato de cismar com uma pedra difícil de subir. Para qualquer outra criança de sua idade o problema seria resolvido facilmente, bastava subir a pedra ao lado, que era mais baixa e mais fácil de subir, ou melhor, bastava subir pelo outro lado da pedra que o impedia de ver o por do sol, onde tudo era bem mais ameno. E ele não desistia. Voltava para casa triste por não poder se despedir do sol, e após várias tentativas frustradas seu grande motivador já iluminava o outro hemisfério do mundo, mas isso tornava a determinação do pequeno mais apurada. Vários dias de tentativas eram gratificadas por uma visão mais bela daquele horizonte alaranjado.
Algumas vezes aconteciam acidentes. Certo dia, em uma de suas investidas sobre um bloco, que a uma semana e meia ele visava o topo, ocorreu o acidente. Próximo do topo, onde já era visível o lugar onde iria sentar para vislumbrar a paisagem que crescia do outro lado da pedra, foi surpreendido pela fita de sua sandália que estourou. Despencou alguns poucos metros causando alguns ferimentos. O sol já havia ido embora, deixando o garoto sangrando no chão escuro...
-Mas o que é isso muleque? Seus braços e suas pernas estão machucados, já para dentro lavar isso tudo.
Seguiu para dentro de sua casa de cabeça erguida, com um sorriso no rosto, em sua mente ele sabia que no dia seguinte ele veria seu amigo sol. Levando ele a concluir que sandálias não seriam mais suas companheiras naquelas brincadeiras. Passaram-se os anos, a brincadeira ainda era a diversão de Guilherme. Nos finais de semana a diversão de subir em blocos de pedra era substituída por: nadar no lago, andar a cavalo, fugir dos bois e outras brincadeiras que cercavam a mente do menino dos blocos esquecidos em algum canto da fazenda. Entre as brincadeiras dos finais de semana a preferida das crianças era a tão famosa exploração, juntavam-se todos os irmãos e saiam para caminhar em busca de cachoeiras ou de outros lugares onde ninguém jamais havia visitado, segundo eles. O aparato de exploração era muito grande, paus viravam armas contra animais, os mais fortes levavam os lanches e os mais velhos iam a frente, Guilherme ficava sempre no meio, pois era o terceiro da prole. E foi por causa dele que neste dia de final de semana foram visitar o lado esquecido da fazenda. Andaram várias horas dentre as pedras, deram nome para algumas, viram formas em outras e nenhuma criança pensou subir nenhuma delas. Guilherme, para zelar seus momentos de meditação e diversão solitários, optou por guardar o segredo de sua brincadeira. Aproveitou a companhia dos irmãos e a proteção de todos para propor uma ida fora dos limites da fazenda, lugar por onde nenhum deles pensou estar. Para todos era um desafio, embora soubessem que se os pais descobrissem algo seriam severamente castigados; para o pequeno conhecedor dos blocos de dentro da fazenda, aquele passeio seria motivo para aumentar seu leque de desafios.

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