Sunday, January 24, 2010

Nobre companhia

Após algumas horas do término da chuva de verão, o homem da maleta de couro esta liberado para almoçar. A maleta que carrega em mãos é objeto fundamental para guardar os documentos que direcionam sua linha de trabalho.

Sempre vai ao trabalho de carro, pois a demora corresponde a cinco minutos. Por semana gasta uma hora nesse breve intinerário (contando com os trânsitos frutos das chuvas da época), o contrário seria se caminhasse rumo às atividades laborais. A caminhada, em razão da adiposidade que o sustenta, levaria por volta de uma hora, que é o tempo gasto em uma semana de carro.

Justificada escolha do transporte, cabe analisar que no horário de almoço o deslocamento ocorre com o auxílio das duas pernas, apenas. Acredita o homem da maleta que o trecho percorrido de forma natural, favorecerá na perda de alguns quilos. Tal objetivo virou moda de alguns anos para os dias atuais, motivo que é alvo de alguns de seus desprazeres pessoais.

O consolo encontrado para o combate do peso excessivo corresponde às caminhadas que antecedem os almoços nos dias de trabalho, conforme dito e, como forma de mascarar qualquer ironia - o suco, sem açúcar, que acompanha dois pratos generosos, antes do início do segundo período de serviço.

A hora de abastecer o estômago sempre foi muito solitária. Não somente no momento de mastigar e engolir as guloseimas do restaurante. O caminho de ida e volta se concretiza ausente de qualquer forma de manifestação social de seres vivos.

Exceto pelo que hoje ocorreu.

Uma borboleta pousa em seu terno. Alguns instantes depois da criatura enfeitar a vestimenta sem graça, o roliço caminhante percebe a nobre companhia. Um sorriso cora sua face, o esforço da caminhada acelerada ajuda um pouco com a tonalidade adquiria, embora grande parte da cor rúbea seja em decorrência da pequena espécie que o acompanha.

As cores de suas asas lembram um vitral. O vitral remete os dois elementos: bicho homem e bicho borboleta, ao tempo em que aquele bicho homem necessitava de pouco pano para se vestir, ao tempo em que borboletas eram sempre vistas quando as horas vagas eram dedicadas aos momentos com a natureza, ao tempo em que vitral era palavra difícil de ser dita, ao tempo que vitral era bonito quando visto na igreja e que esta não era apenas uma memória de um casamento mal resolvido.

Hoje, apenas hoje, sem trocar palavras com sua companheira ele sorriu. Os seus olhos encheram de lágrimas, a poluição incomodou seu nariz, ao mesmo tempo em que sua companheira da breve caminhada se despede, acompanhada de um rastro de saudade.

Homem da maleta nascido em 12/03/1975

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