Friday, December 14, 2007

Contos de Escalada

Escalador 1
parte 3


A garota esguia se sentou diante da pedra, esta que avançava alguns metros sobre sua cabeça, como se não fizesse esforço algum ela suspendeu seu corpo do chão e rapidamente como um tiro certeiro levou a mão para uma saliência da pedra muito pequena. A progressão dela era como uma dança para o garoto, após alguns movimentos diante daquela rocha que ia contra o seu corpo, forçando aquela garota ficar quase paralela ao chão, ela cai. Amparada por ambos os homens e por um quadrado preto sobre a área, onde colidiu meio sem jeito acompanhada dos gritos de animo deixados pelos dois que a acompanhavam.
Agora um dos homens se sentou diante do bloco, o garoto podia observar a concentração que envolvia a atmosfera naquele momento. Seu corpo saiu do chão com a mesma facilidade que o corpo da mulher, e após alguns movimentos semelhantes aos da moça, ele segura com ambas as mão duas saliências que equivalem a apenas um terço de sua falange... O jovem respira fundo, Guilherme segura a respiração, aquele momento dava a leve impressão de que qualquer deslocamento de ar poderia derrubar aquele corpo agarrado a pedra. Entre a pessoa que segurava aquelas duas pequenas saliências e o topo da pedra não existia nada, a não ser um espaço de pedra lisa e clara característica do lugar. Um salto é dado na tentativa de buscar a borda final do bloco e um grito seco e estrondoso ecoa pelas árvores do bosque, outro estrondo revela que não houve sucesso na tentativa daquele rapaz.
Ainda meio em transe ele se levanta e senta muito próximo ao garoto que assistia toda a cena, sem perceber que alguém o assistia muito entretido.
-O que vocês estão fazendo ai?- Guilherme na tentativa de colher informações sobre sua brincadeira, que agora constava que não era o único que tentava subir os blocos, pergunta para a pessoa ao seu lado.
-Oi. Estamos fazendo boulder.- O homem um pouco assustado com a presença inusitada responde com receio.
-Muito legal isso! Eu também tento subir algumas pedras, mas nenhuma tão alta como esta que vocês estão tentando.
-Que bom, aqui nesse bosque tem muitas crianças que vêm escalar com a família. Qual o seu nome?
-Guilherme. Você pode me ensinar alguma coisa sobre subir esses blocos maiores?
O rapaz de frente para o garoto foi surpreendido com a pergunta e mesmo assim a resposta foi positiva, avisou aos amigos que mostraria o bloco visinho ao seu novo colega. Ambos caminharam em direção a um bloco ao lado, este era mais baixo e muito largo, possibilitando uma variedade de possibilidades e formas diferentes de subir. Após algumas indicações sobre como subir aquela pedra o garoto começou sua primeira investida na superfície vertical do lugar indicado. De forma orgânica e harmoniosa chegou ao topo sem dificuldades, surpreendendo seu observador tamanha a complexidade que envolvia a parede, para uma criança com sua idade conseguir sucesso na primeira tentativa. Empolgado indicou outra linha com o mesma dificuldade da anterior, na tentativa de testar a criança que já estava próxima para o desafio a ser proposto. A experiência vivida pelo rapaz possibilitou perceber que ele não estava lhe dando com qualquer criança.
O entrosamento entre ambos era notório, rapidamente Guilherme foi apresentado para os amigos do jovem que o ensinava como subir blocos.
-Este é Guilherme, meu novo amigo, em ambos sentidos!- Todos riram.
Depois desta breve apresentação os minutos seguintes, foram regados com muita conversa e aprendizado em todos aspectos. Logo em seguida o garoto foi chamado para voltar para a fazenda:
-Gui, vamos indo, esta ficando tarde!- Gritou um de seus irmãos mais velhos.
A criança se despediu de seus novos amigos, que tinham o mesmo gosto por subir pedras como eles.
Na semana seguinte, a criança que brincava pelos blocos de pedra mudara. Não usava mais sandálias para se aventurar, assim como seus novos amigos, optou por um calçado fechado, visando maior precisão em suas subidas. Visava também blocos mais altos dentro da fazenda, aumentando o risco e a satisfação final. O por do sol foi esquecido, agora o que importava para ele era subir os mais difíceis e não ver o por do sol quando chegar ao topo, sua mentalidade era outra.
Passado exatamente sete dias, do primeiro encontro com os amigos, resolveu ir ao bosque sozinho. Pegou uma mochila com comida e um pouco de água, era tudo que precisava para seu dia nos blocos do bosque. Ao chegar não demorou muito para encontrar seus amigos, estavam próximos ao bloco onde se viram a primeira vez. Este dia foi muito produtivo para Guilherme. Seus amigos explicaram que aquilo que ele fazia era escalar, que aquela modalidade de escalada era muito peculiar como todas as outras e, também, que o crescimento de adeptos naquele estilo estava crescendo. Explicaram os graus da escalada, junto com o uso correto de equipamentos, fato que deixou a criança um pouco apreensiva, afinal não teria dinheiro para comprar nada. O pequeno garoto tomou conhecimento da relevância que tinha aquele bosque para os escaladores. Era o maior já descoberto na região, com uma variedade enorme de diferentes linhas, graus e blocos.
Os encontros entre essas pessoas tornaram-se mais freqüentes. Porém, apenas um dos escaladores parou de freqüentar o bosque por ter que mudar de país, deixando somente o jovem casal ter mais afinidade com o garoto.

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