Tuesday, January 08, 2008

Contos de escalada

Escalador 2
(parte 1)
Iuri, assim como a grande maioria de escaladores de sua leva, começou o seu contato com a escalada através de amigos. No auge de sua adolescência em uma festa de família, conheceu Lucas o sobrinho de seu padrasto. Diante de muita conversa sobre garotas, lugares para sair e entre um gole e outro de wisky, longe das visas dos pais, descobriram que tinham algo em comum. O esporte era predominante na vida dos dois. Contou ao seu novo amigo que gostava de praticar natação, nada muito serio longe de qualquer pretensão, seu intuito era apenas manter a forma, afinal era disso que as garotas de sua época mais levavam em consideração. O garoto responde para Iuri: “Eu sou escalador”. O nadador foi remetido a comerciais e cenas de filmes onde existiam homens destemidos e fortes, arriscando-se em beiras de desfiladeiros seguros por uma fina corda e nada mais, acostumados com os desprazeres das aventuras nas alturas. Aqueles homens não tinham nenhuma semelhança com o aspecto do corpo franzino do dono da tal afirmação. Segurou uma risada de desdém balbuciando um simples, “Que legal!”.
A conversa sobre escalar paredões de rocha redeu o resto da noite, terminando com um convite para escalar no próximo final de semana. Convite aceito. O porte atlético de Iuri adquirido depois de anos de natação, comparado com o estilo raquítico de seu amigo escalador, provava que a idéia de ficar pendurado a alguns metros do chão seria muito fácil.
A ansiedade tomou conta do rapaz, tirando um pouco sua vida da rotina normal. Treinou mais forte na natação com o intuito de não fazer feio diante de todos no grande dia.
Esperando em frente a sua casa, já estava com a mochila pronta, vestia o tênis mais resistente que tinha e uma roupa folgada. Chegada a carona. Dentro do carro estavam, seu amigo acompanhado de uma garota que aparentava ser sua namorada, devida aproximação entre os dois e mais um garoto, aparentando ter a mesma idade de Iuri.
A viagem demorou. Duas horas e meia viajadas de carro. Regadas a muita conversa que deixava o novato perdido entre tantos termos estranhos e nomes impronunciáveis.
Chegaram ao tão esperado lugar, cujo nome era uma palavra indígena fácil de ser memorizada. A parede ainda não era totalmente visível ao longe.
A caminhada até a base da rocha rendeu alguns poucos minutos vencidos facilmente pelo iniciante, devido seu grande preparo e a enigmática atração que a pedra exercia sobre ele.
Diante daquele paredão cinza a sensação era de impotência. O contato direto com a natureza transmitia uma paz interior, esperou sua respiração voltar ao normal, olhou cada canto daquele lugar com muita admiração e respeito. Iuri estava encantado. Somente o fato de ter chegado aquele lugar já era o necessário, era gratificante.
O trio que chegou logo na seqüência, esvaziava suas mochilas visivelmente mais pesadas que a trazida pelo rapaz que olhava. A garota tratou de explicar superficialmente o que eram algumas coisas que ela tirava da mochila, mostrou algumas estruturas metálicas parecidas com ganchos. Encantado com a beleza dos materiais e com o ato de se preparar para vencer um gigante da natureza, o novato não se deu conta de que todo aquele encanto era indiferente para a imponência e rigidez da rocha posta a sua frente.
Seu amigo começou a subida parando diante de uma peça de metal encravada na rocha, exatamente dois metros do chão. Vestindo uma calça colorida muito colada, que levou Iuri a segurar o riso novamente, seu amigo engatou um dos ganchos presos a sua cintura na estrutura presa a pedra, demonstrando muita calma e logo em seguida predeu ao gancho a corda que levava consigo. Fez sistematicamente o mesmo gesto diante de todas as outras pequenas peças de metal encravadas no paredão separadas por uma distância consideável. O sucesso foi alcançado. Sem maiores esforços chegou ao topo da pedra, obrigando o escalador a se pendurar na corda presa a sua cintura. Na outra extremidade da corda estava a namorada do escalador segurando seu corpo suspenso no ar e baixando aos poucos.
Agora todos estavam no chão e havia chegado a hora de Iuri ser iniciado.

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