Monday, January 14, 2008

Contos de escalada

Escalador 2
(parte 2)

Em poucos minutos Iuri já havia vestido todos os equipamentos necessários com a ajuda de seus amigos. Agora seu coração batia acelerado ao mesmo tempo que cada um dos três, que estavam com ele, passavam algumas instruções de segurança e como se portar na parede.
Tudo pronto. Iuri caminhou em direção a parede buscando em sua mente algo que o motivasse estar ali. A busca foi em vão, pois aquela motivação esperada envolvia um magnetismo desconhecido entre homem e rocha.
Diante da pedra, pronto para enfrentar aquele gigante, colocou a mão direita dentro da saco de magnésio sujando quase por inteiro sua mão de branco. Com um gesto confiante levou a mão esquerda de encontro com a direita causando um ruído surdo, que ecoou por todo o local. Esfregou uma mão contra a outra selando o ritual que seria feito todas as vezes que fosse envolvido por uma escalada marcante.
Colocou simultaneamente a mão esquerda em uma saliência da rocha, com a mão direita. Embalou o corpo para cima apoiando os dois pés contra a parede de pedra, levando seu corpo e sua alma para uma viagem sem volta. O ingresso no mundo da escalada para muitos surge após a primeira subida e, para alguns poucos, o início da vida do escalador começa a partir do primeiro contato com a rocha.
Diferente da forma que seu amigo escalou o paredão, Iuri subia com a corda presa no topo o que possibilitava preocupar-se apenas com a movimentação, não envolvendo atenção extra com proteções no decorrer da via. Os primeiros movimentos foram feitos com muito esforço, mas logo após os primeiros metros o novo escalador sentiu liberdade para arriscar mais, pois a confiança e segurança imperavam no momento.
Em poucos minutos, estava acima da copa das árvores mais próximas vibrando pelo êxito alcançado. Chegar ao cume daquela pedra era algo como a primeira respiração da vida de um bebê, após aquele instante Iuri estava respirando escalada. Abismado com seu feito, vibrou...
Depois desta nova conquista, neste mesmo dia, escalou três vezes a mesma via para sentir novamente a euforia da primeira vez. Tentou também outras vias mais difíceis que não conseguiu completar sem quedas. Percebendo assim, que a força nesse esporte não é fundamental, uma vez que a garota aparentemente mais fraca que ele chegava ao final da via sem maiores esforços.
Assim como muitos que estão lendo esta história, Iuri, após este dia fez da escalada um estilo de vida. Tratou de procurar algum lugar para treinar escalada e, com a indicação de seus amigos começou a treinar em um ginásio de escalada que ia todos os dias que podia. Conheceu novos amigos escaladores, criou novos contatos, viajou para lugares diferentes com o exclusivo intuito de escalar e, rapidamente dentre a comunidade local, era um destaque. Por ser muito dedicado estava sempre junto com a elite do esporte procurando paredões novos para serem escalados.
Seu entusiasmo ia além do dinheiro de sua mesada. As economias feitas através das quantias em dinheiro dadas pelos familiares em datas comemorativas, foram torradas com equipamentos e cursos. Aquilo que ele não aprendia nos cursos era absolvido dos livros, que eram poucos, sobre o assunto. Sua devoção pela escalada era tanta que não demorou muito para conhecer um outro escalador como ele. Seu nome era Jorge.
Em um dia de aula comum, na faculdade, se conheceram. Iuri devido as notas baixas, era obrigado agora a prestar atenção em todas as aulas que fora ausente no início do ano, ato difícil de ser concretizado, pois agora morava a apenas meia hora de vários setores de escalada. Conseguiu entrar na faculdade que queria, pois ficaria sempre perto das rochas agora. Numa aula qualquer com um simples desvio de atenção olhou para a mesa ao lado e como miragem, viu um garoto com os cabelos desgrenhados, que nunca vira na sala devido a ausência de ambos, desenhando com muita perfeição e detalhes uma pessoa aparentemente pendurada em uma rocha. Espantado Iuri pergunta: “Ei, o que você esta desenhando ai?”. Como já era de se imaginar... Este era Jorge. Sua fissura por escalada era tanta ou maior que a de Iuri, por escalada, que era capaz de ter mais folhas com desenhos relacionados a escalada do que a própria matéria da aula no caderno.
O entrosamento foi imediato, fundaram após alguns meses uma revista regional de escalada, que até o final do curso de ambos foi responsável pelo pagamento das custas inerentes a escalada. A revista foi um sucesso, inovadora em todos os aspectos, deixando de ser uma revista regional em pouco tempo.

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