Tuesday, February 19, 2008

Contos de Escalada

Escalador 2

(Parte 5 - final)


Tudo que envolvia este instante afastava qualquer ato de sanidade vinda deste escalador esgotado, posto que ele esta escalando dentro de uma tempestade para alcançar o cume de uma parede. Esta situação vista de fora realmente é lamentável. Considerando que a pedra sempre estará esperando o escalador e que basta esperar outra janela de tempo bom para retomar as atividades de forma segura. Mas, isto não vem ao caso, Jorge queria ser o primeiro...
Iuri por um breve momento concluiu isso e continuou olhando aquele ponto laranja desaparecer na bruma alva. Para ele, ver seu amigo a caminho do nada era algo fora de seu controle, visto que agora estava sentado naquele chão gelado, com suas pernas quase sem sensibilidade alguma. A única opção que resta é esperar a sua vez de subir. Esperou com bastante serenidade contemplando seu amigo resumido a um grão de areia sob sua cabeça, no meio daquela tempestade interminável.
O instante de serena reflexão foi invadido por ruídos estarrecedores e pancadas bruscas vindas de todos os lados. Blocos de pedras vinham de todas as direções, juntamente com muita neve. Iuri demorou um pouco para entender o que de fato estava acontecendo e, com um reflexo rápido de todo escalador, fechou sua mão fortemente afim de evitar que acontecesse o pior com seu amigo que se encontrava do outro lado da corda. Procurou apenas com o olhar algum possível abrigo, enquanto algumas pedras colidiam contra seu capacete e seus ombros. Dirigiu-se rapidamente para o lugar onde dormiu com seu amigo na noite anterior. Chegando próximo ao lugar desejado, um solavanco o puxa para trás. A corda impedia qualquer movimento seu. A alguns passos do seu abrigo tudo se apaga.

-Iuri?
Foi a primeira voz que ele ouviu antes de abrir os olhos. Aquela voz lhe era conhecida com um tom rouco inconfundível. Abriu os olhos rapidamente para ver se aquilo que ouvira não seria um fruto de devaneios.
De olhos abertos se depara com uma pessoa muito grande com o rosto perto do seu analisando-o como se fosse um pequeno verme. O sorriso daquele homem demonstrava de quem era o corpo que estava ao seu lado tão próximo que Iuri conseguia ver a si mesmo refletido nos óculos da pessoa.
-Se eu soubesse que te trazer para o mundo da escalada seria trazer para mim a responsabilidade de te salvar, nunca teria te iniciado...
Ele acabou de constatar quem era o dono daquela frase. Ninguém mais prepotente que seu mais antigo “amigo” de escalada, poderia dizer algo tão arrogante em uma situação destas.
A equipe que estava por tentar fazer o cume adiou seus planos com o intuito de resgatar Jorge e Iuri a pedidos alheios. Colocando em risco o seu sucesso resolveram resgatar os escaladores que se acidentaram no meio da parede, trazer todos de volta com segurança e retomar a escalada logo após o feito.
-Onde esta Jorge?- Iuri antes de querer saber o que aquela pessoa fazia ali ao seu lado, perguntou do amigo.
-O garotos estão mais abaixo com ele.
O sorriso de satisfação da pessoa que estava ao seu lado era impossível de disfarçar. A satisfação claramente não era de encontrar Iuri com vida, mas aquele olhar revelava que o infeliz final de escalada da dupla era gratificante para aquele homem que veio ao resgate.
O acidentado foi descendo a parede com o auxilio de seu novo ajudante. Em sua cabeça somente existiam duas coisas: dor, pois era possível que estivesse com o ombro fraturado juntamente com algumas costelas, e a preocupação de como o amigo poderia estar.
A alguns quinze metros do chão era possível ouvir ao longe o barulho de um helicóptero. Rapidamente, ao encostar os dois pés em solo firme, outros homens que ele desconhecia foram responsáveis pela sua locomoção até o helicóptero onde foi levado juntamente com seu amigo em estado deplorável.
A aeronave decolou com muita dificuldade diante da tempestade levando a equipe médica e os dois acidentados...

Para alguns escaladores este seria o fim, mas para Iuri esta foi uma etapa que necessitava ser vencida. Escaladores dividem-se em duas metades: de um lado temos os que param suas vidas de escaladores após o primeiro grande trauma; outros recomeçam sua verdadeira vida de escalada a partir deste ponto, o início de um escalador mais maduro...
Após alguns meses do grande trauma, pouco antes de Jorge voltar do coma, Iuri voltou a comandar as edições da revista. Seu ganha pão era aquele, por mais traumático que aquilo fosse, o desafio de continuar a vida se tornou superior a tudo.
E superou. Sua vida continuou sem maiores problemas, embora tivessem ocorrido algumas mudanças. Jorge perdeu o pé direito no acidente e após voltar do coma não rejeitou o amigo e rescindiu a sociedade da revista que continuou existindo com o comando de Iuri.
Estou um dia sentado em sua sala recebeu a visita de uma garota. Ela tinha a proposta de fazer uma reportagem sobre uma modalidade de escalada não muito conhecida por ele. A moça trouxe fotos do lugar que seria base da matéria, fez algumas colocações coerentes e conseguiu convencer o dono da revista de conhecer o lugar para ver o potencial. A modalidade não muito conhecida dele virou uma paixão, que explodiu junto com a paixão pela garota e pela beleza do lugar que começaram a explorar mais vezes...

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2 Comments:

Blogger Levi Rodrigues said...

Um blog de "Contos de Escalada". Gostei dessa!!!!

Continue escrevendo.

Abs

Levi Rodrigues
www.cordadainfinita.blogspot.com

6:15 AM  
Blogger Linha said...

Fala Joao! Tenho mais videos do carlera de Caioba, assim que tiver um tempo vou dar uma editada e colocar por la! Abs

7:59 PM  

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