Thursday, January 28, 2010

Desespero de uma certa idade

- Em que posso ajudar?

- Vocês tem ainda o livro "Onde esta o Wally"? - Ela quase não conteve o riso.


Após alguns dias de volta do velho mundo, diante da monotonia que a acompanhava em sua terra natal, resolveu, por impulso, como sempre agira, comprar um exemplar de um livro responsável por lembranças de sua feliz infância.


- Temos sim. Qual volume gostaria? - O vendedor de prontidão, após consultar no sistema da enorme livraria, indagou.


A escolha foi pelo primeiro volume, cujo qual foi tomado em mão pela futura proprietária. A ansiedade para voltar às aventuras e mundos que povoavam o livro escolhido foi responsável pelo impulso de procurar algum lugar para apreciar o livro no estabelecimento mesmo. Cômica ficou a imagem de uma mulher sentada na sessão de livros infantis, como se saboreasse o manjar dos deuses.


Infelizmente, para os adultos a capacidade de ficar mergulhado no mundo de fantasia é bastante limitada. Com ela não poderia ser diferente. Senta nos pequenos colchões reservados para os pequeninos, sentiu o chamado das necessidades do DNA: "multiplicador de genes em vista". O tal chamado tirou Violeta do transe em que estava inserida, fato que consistia em buscar um homenzinho de roupas atípicas em cenários atípicos.


O primeiro sentido responsável por nos alarmar sobre as necessidades reprodutoras é o olfato. O segundo, como já sabido, visão. Assim, como se um anjo guiasse os olhos da nossa personagem, uma criança com pouco mais de cinco anos tropeça aos pés do nosso próximo importante personagem. O rapaz gentilmente se abaixou para ajudar o pequeno ser.


Ao se deparar com a cena, fora do comum para os dias de hoje, onde qualquer rapaz da idade deste ignoraria o fato e olharia o projeto de ser humano se por em posição ereta sem lhe oferecer ajuda, fez com que ela compreendesse o instinto paterno aflorado no jovem.


O porte robusto e avantajado ficou em destaque quando tomou a menina que chorava no colo e devolveu a descuidada mãe. Três pontos ganhos para moça: olfato que lhe chama atenção, instinto protetor proeminente e portes de bom reprodutor. Os genes em ponto de ebulição lançaram a carcaça que estava jogada sobre os bancos reservados para crianças sob uma posição avassaladora.


De nada adiantou. Ele sorriu para a mãe que virou as costas e logo recebeu em mãos de um vendedor da loja, um exemplar de um livro de Carlos Drummond de Andrade, cujo qual nossa personagem feminina não identificou o nome. Independente disto, aumentaram-se os pontos, Drummond é sinal de bom gosto para não falar que vale como sinal de apurada inteligência. Afinal, ela poderia contar nos dedos os últimos homens que a conhecera e havia lido o renomado autor.


A única escolha, diante da tentativa de chamar atenção pelos seus dotes físicos (diga-se de passagem muito chamativos), foi esperar por algum outro fato surpreendente. Pois bem, a única coisa que desagradou foram as chinelas que contrastavam com as vestimentas de muito bom gosto.


Vistos os prós e um contra. A moça acompanhou com os olhos ele retirar mais dois livros de prateleiras destintas, que a essa altura pouco importavam para comprovar o quesito bom gosto e inteligência absoluta, fatores já declarados como positivos. O alvo se dirigiu ao caixa sem dizer uma palavra retirou do mostruário uma sacola ecologicamente correta, retirou da carteira a nota mais alta em rotatividade, aguardou o troco, colocou as mercadorias adquiridas no bornal e deixou cair um livro no chão.


Tomada, novamente, pelo impulso e pela proximidade em que acompanhou os fatos tentou chamar a atenção do descuidado comprador. Novamente, tentativa frustrada. A escolha foi recolher o exemplar de título ”Crônicas Brasileiras” e seguir a pessoa para a devolução do livro pago, e, infelizmente, não levado.


Aroma aprovado, características de protetor, por assim dizer, educado quando o assunto é embaraçoso (criança caindo aos seus pés), dotes físicos de causar inveja a qualquer outro elemento do mesmo sexo, bom gosto para se vestir, ressalvadas as chinelas (que, mesmo assim, lhe dão um aspecto despojado – elegante), bem monetariamente, ao levar em consideração que são poucos os que carregam notas de valores altos na carteira. Basta, de acordo com a adversidade proporcionada, averiguar o tom de voz. Fator dominante para a reprodução de grande parte das espécies do mundo animal, que para o ser humano, não seria diferente, embora poucas mulheres admitam tal questão.


De todas as formas tentou chamar a atenção dele, que atravessava a livraria desapercebido. Ela, como se não bastasse os grunhidos para deter o andante, chamou mais atenção quando atravessou a porta de saída com um exemplar de autoria de Darcy Ribeiro e outro - “Onde esta o Wally”, responsável por disparar o alarme e deixar o alvo ir embora sem pistas de seu último fator determinante.


Tuesday, January 26, 2010

Flagelado da natureza

Esse texto escrevi a um tempo atrás, não me pergunte quando. É sobre a triste realidade de uma pessoa que passou por um desastre natural... Caso esteja sensibilizado hoje, não leia...



Flagelado da natureza


Quantos seres humanos mortos vocês já viram em sua vida? Desde o meu nascimento, presenciei homenagens fúnebres de entes da minha família e alguns membros da minha aldeia de origem. A quantidade de vezes que compartilhei a presença de cadáveres ao meu lado aumentou drasticamente no decorrer dos últimos dias.


O fenômeno que motivou o acontecimento destes fatos em sua essência é muito simples: uma grande quantidade de água invade o continente devastando tudo.


Nasci em uma ilha de origem vulcânica no sul do Oceano Pacífico. Sou fruto de criação de uma comunidade típica das ilhas da região, entretanto o contato com turistas do ocidente cooperou para minha situação atual. O contato da população local ao oeste da ilha com os visitantes do mundo inteiro foi sempre muito pacífico. As pessoas de diferentes nações e constituições físicas foram levadas por mim, quando criança, para conhecer as praias paradisíacas de nossa aldeia.


O aumento das visitas colaborou com o meu deslocamento ao polo da ilha receptor de turistas. Com uma estrutura própria para recepcionar inúmeros estrangeiros foi atraído para este meio com o intuito de ganhar dinheiro e sustentar uma vida digna de um ocidental. Apesar de muito jovem, já mantenho uma família pequena. Minha esposa que me acompanhou na saída da aldeia esposa e minha filha para quem dedico horas de trabalho para seu sustento.


Minha função principal era levar turistas do polo metropolitano da cidade para conhecer o lado oeste da ilha, o lugar onde eu nasci. Isso aconteceu desde a minha infância, mas a diferença atual é o percurso pelo qual levo os clientes. Antes, quando criança, as pessoas chegavam direto em minha comunidade, agora com o aumento do aeroporto e crescimento da demanda, empresas se especializaram no serviço de receber os clientes do lado rico da cidade e fazer seu transportes às áreas paradisíacas distantes e não afetadas pela urbanização drástica.


O deslocamento demora em torno de duas horas, feito por veículos com tração nas quatro rodas de última geração. Eu sou responsável por toda a viagem dos visitantes, mostro os pontos mais interessantes de minha aldeia, que hoje não prosperam mais com tanto vigor diante da intervenção de empresas estrangeiras de turismo como esta em que eu trabalho.


Minha esposa trabalhava como garçonete em um restaurante a beira da praia, no centro metropolitano da ilha. Hoje, estive a procura dela, ou melhor, de seu corpo que provavelmente foi levado pela grande onda que devastou minha terra natal. Consegui, por ironia do destino salvar nossa filha, que ficou doente e não pode acompanhar a mãe na jornada de trabalho.


Quanto o terrível incidente ocorreu eu estava a caminho do hospital, dentro do carro da empresa, acompanhado somente pela minha filha que seria atendida por algum médico barato. A onda gigante arrastou o automóvel por vários metros até ficar preso contra um muro que resistiu o impacto.


O cenário é calamitoso, durante quatro dias procurei pela minha esposa. Durante estes três dias de angustia, sem dormir um segundo sequer, vistoriei cadáver por cadáver nas ruas até encontrar o corpo de minha esposa.


Foi carregando minha filha de quatro anos nos braços que a encontrei. Levantei uma toalha de mesa responsável por esconder duas vítimas do desastre e me deparei com sua imagem sem vida e muito desfigurada. Seu nome ainda era visível ao pouco que restou do uniforme do restaurante.


Agora, sem nenhuma esperança, sigo em direção a minha aldeia, para celebrar o rito de passagem de minha esposa, levado por um carro de boi precário. Cercado de dúvidas, não sei o que restou de meu lindo recanto natal e qual o futuro que me espera. Cercado de certezas, ouço o choro de minha filha que anseia por comida e sinto o fedor da morte que exala do corpo de minha finada esposa.


Nome: Ferdinando Garcia Roxas

Nascimento: 20/11/1975


Sunday, January 24, 2010

Nobre companhia

Após algumas horas do término da chuva de verão, o homem da maleta de couro esta liberado para almoçar. A maleta que carrega em mãos é objeto fundamental para guardar os documentos que direcionam sua linha de trabalho.

Sempre vai ao trabalho de carro, pois a demora corresponde a cinco minutos. Por semana gasta uma hora nesse breve intinerário (contando com os trânsitos frutos das chuvas da época), o contrário seria se caminhasse rumo às atividades laborais. A caminhada, em razão da adiposidade que o sustenta, levaria por volta de uma hora, que é o tempo gasto em uma semana de carro.

Justificada escolha do transporte, cabe analisar que no horário de almoço o deslocamento ocorre com o auxílio das duas pernas, apenas. Acredita o homem da maleta que o trecho percorrido de forma natural, favorecerá na perda de alguns quilos. Tal objetivo virou moda de alguns anos para os dias atuais, motivo que é alvo de alguns de seus desprazeres pessoais.

O consolo encontrado para o combate do peso excessivo corresponde às caminhadas que antecedem os almoços nos dias de trabalho, conforme dito e, como forma de mascarar qualquer ironia - o suco, sem açúcar, que acompanha dois pratos generosos, antes do início do segundo período de serviço.

A hora de abastecer o estômago sempre foi muito solitária. Não somente no momento de mastigar e engolir as guloseimas do restaurante. O caminho de ida e volta se concretiza ausente de qualquer forma de manifestação social de seres vivos.

Exceto pelo que hoje ocorreu.

Uma borboleta pousa em seu terno. Alguns instantes depois da criatura enfeitar a vestimenta sem graça, o roliço caminhante percebe a nobre companhia. Um sorriso cora sua face, o esforço da caminhada acelerada ajuda um pouco com a tonalidade adquiria, embora grande parte da cor rúbea seja em decorrência da pequena espécie que o acompanha.

As cores de suas asas lembram um vitral. O vitral remete os dois elementos: bicho homem e bicho borboleta, ao tempo em que aquele bicho homem necessitava de pouco pano para se vestir, ao tempo em que borboletas eram sempre vistas quando as horas vagas eram dedicadas aos momentos com a natureza, ao tempo em que vitral era palavra difícil de ser dita, ao tempo que vitral era bonito quando visto na igreja e que esta não era apenas uma memória de um casamento mal resolvido.

Hoje, apenas hoje, sem trocar palavras com sua companheira ele sorriu. Os seus olhos encheram de lágrimas, a poluição incomodou seu nariz, ao mesmo tempo em que sua companheira da breve caminhada se despede, acompanhada de um rastro de saudade.

Homem da maleta nascido em 12/03/1975

Saturday, January 23, 2010

Livros!!!

Ultimamente tenho lido muitos livros. Somente neste mês estou a ler o quinto livro.
Li bastante José Saramago, que para mim e o mestre faixa preta da literatura portuguesa. Este inicio de ano, vaguei pelos seus títulos: "As pequenas memórias", "In nomini dei" e seu último - "Caim". Antes do "Caim", me deliciei pelo "Cartas de amor de grandes homens", agora estou na companhia de "Iracema", escrito por José de Alencar.

O primeiro livro que terminei em 2010 foi "As pequenas memórias", que é um livro muito gostoso no qual o próprio autor narra algumas passagens de sua vida. Existem inúmeras passagens engraçadas, outras bem tristes e até algumas que justificam alguns títulos escritos anteriormente.

"In nomini dei" é uma peça teatral que ilustra uma história passada quando o protestantismo começa a ganhar forças na Europa. Saramago mostra com muita destreza que o uso da religião como forma de expressão de poder e domínio é um vício social, assim como vicia a personalidade de cada um que detém esta arma em mãos.

Para fugir um pouco das sábias vindas de Portugal, mas não esquecendo do país, mandei vir de Lisboa o livro "Cartas de amor de grandes homens". Simplesmente fantástico. Palavras escritas por Napoleão, Eça de Queiros, Fernando Pessoa, Mozart, Beethoven, Victor Hugo, Darwin, entres outros ilustres. Existem casos de amor mal resolvidos, traição, homossexualismo, amores platônicos, juras eternas de amor, cartas de términos de relacionamentos, palavras que nunca foram lidas, palavras escritas e lidas. O livro mostra várias facetas de personagens que nem imaginava que poderiam escrever como escrevem sobre amor.

Regado de grandes cartas ingressei na odisseia de "Caim". Para mim o melhor livro que li do José Saramago. Nessa sua última história embarcamos em histórias do antigo testamento, acompanhados do anti-herói Caim. Este por sua vez se assemelha muito com o modo de pensar do autor do livro. O personagem reage de forma negativa contra as decisões de seu criador e criador da humanidade: Deus, por isso ter conhecido de frente as atrocidades cometidas no decorrer da trama.

Agora, estou a ler algo que seja mais erudito que Saramago, pois já estava pegando o mesmo jeito de pontuar do infeliz nobel de literatura. Ressalvo, apenas estava assumindo os vícios de pontuação, ou seja, a qualidade do que escrevo não melhorou em nada. Retomo, o título atual é "Iracema", a virgem dos lábios de mel. Grande clássico do romantismo brasileiro.

E o próximo será: "A descoberta do Brasil pelos turcos". Incrível narrativa de Jorge Amado!

Aconselho todas estas leituras! Os livros são ótimos alguns difíceis de encontrar como o livro de cartas de amor que, em português, somente pode ser encontrado em Portugal. A peça teatral do Saramago também é difícil de encontrar. Esse livrinho foi um achado meu em uma livraria que estava fechando e fazendo de seu estoque nunca lido uma pechincha.

Boas leituras!

Wednesday, January 20, 2010

anjo da guarda?

Eu acredito em anjo da guarda e você?
Acredito que temos algum guia para nos salvar de algumas "roubadas"...
Eu, por exemplo, tenho um espirito guia. Embora, este goste de tirar umas férias.
Mas, por sorte minha, ou por alguma decisão divina, eu tenho um substituto em minha vida.
Esse sim, vejo e sou testemunha de sua presença desde quando nasci.
Acho que as forças divinas de minha gênese olharam para minha cara e pensaram: "Você nunca pode estar sozinho".
Foi ai que me deram um anjo da guarda do mundo real... aquele palpável...
Veio na forma de irmão gêmeo... assim que é bom...
devo muito a ele... que sempre esteve presente na ausência das forças celestes que eram responsáveis pela minha salvação.
Ou, em outra hipótese, ele é a força celeste e o resto foi tudo sorte...
Tenho o prazer de ter nascido com uma força celeste independente de qual sua grandeza...

obrigado irmão...

João Ricardo

2010

imagino um ano ruim em minha vida.... 2008
logo, em consequência, em minha mente, vem outro pior... 2009
eu acreditava, por ser um pseudo otimista, que o próximo seria melhor....
dai então, para completar todas as desgraças de anos ruins vem a mim ... 2010...
em pouco tempo de existência - já me faz pensar em 2011...
este confio que será o meu ano luz!
Por favor, espero, acredito...