Pulseiras do "sexo"
Toda essa polêmica que circunda o assunto pulseiras do “sexo” restaura antigas discussões e tabus que envolvem nossa sociedade e mostra, que mesmo com o passar dos anos, ainda não amadurecemos diante de certos aspectos sociais. Temas como sexualidade na juventude, relação entre pais e filhos, escola e família, educação, conscientização sobre sexo entre outros, são fatores que compõe o cenário atual. O velho conflito de gerações e ideologias entre os mais jovens e os mais experientes se estabelece e todos acreditam que o diálogo é a melhor saída, sempre.
O afloramento da sexualidade juvenil por intermédio das pulseiras nada mais é que uma resposta concreta do descaso em que a geração antecessor trata as ideologias de seus sucessores. Salta aos olhos que proibições são maléficas para a liberdade de expressão. Temos como exemplo a proibição de músicas durante a ditadura que afetou profundamente a cultura de nosso país. Reprimir o uso de artefatos nos remete ao regime ditatorial, nos faz esquecer que o diálogo ainda representa um bom aliado para resolução de problemas.
Utilizar a legislação como forma de acabar com o uso das pulseiras do sexo é totalmente irrisório diante dos temas que envolvem a problemática. Indicam como solução a proibição das pulseiras do “sexo”, depois vão proibir a internet do “sexo”, a música do “sexo”, o relógio do “sexo”, a roupa do “sexo” e o jovem perde com tudo isso sua identidade, sua forma de expressão, vira uma figura amorfa sem expressão e consciência.
Podemos dizer que o projeto que veta o uso dos adereços não aborda apenas a proibição dos mesmos, mas também prima pelo dialogo entre jovens, família e escola. Aliás, segundo o vereador Francisco Sellin (PDT), autor do projeto, esse seria o principal intuito da nova lei.
Dialogo? O psicoterapeuta Humberto Mariotti define: “diálogo (reflexão conjunta e observação cooperativa da experiência) é uma metodologia de conversação que visa melhorar a comunicação entre as pessoas e a produção de idéias novas e significados compartilhados.” Nota-se que não há decisões unilaterais em diálogos. Portanto, se o projeto prima por dialogo, por quais motivos não presenciamos nenhuma representação estudantil? Os jovens foram consultados? Foram ouvidos? Perguntaram para eles se era sua vontade deixar de usar as pulseiras independente da conotação que lhes foi dada? Foram convidados para averiguar se existe outra solução para o problema?
Infelizmente, diante de tanto descaso com o futuro do nosso país, os mais “experientes” ainda tratam seus sucessores de forma ineficiente. A voz dos mais novos ainda e nula para tomada de decisões e o tão esperado dialogo salvador de conflito de gerações se mostra esquecido com o advento deste novo projeto de lei. Os maiores interessados ficam, novamente, nas mãos dos que se julgam senhores da verdade.
Não se pode utilizar o dialogo para legitimar os benefícios causados pela possível lei proibitiva, se ao menos este não foi premissa objetiva para elaboração de seu projeto. Os jovens cada vez mais perdem espaço diante de assuntos que são relevantes para a construção de sua identidade. Ficam ausentes em decisões que são pertinentes para o seu dia-a-dia. Sem palavras, sem o louvado diálogo, estes, cada vez mais, terão seus direitos corroídos por decisões unilaterais. Perderão a identidade juvenil que, até hoje, foi mantida por muita luta e sangue dos que hoje são a geração mais “experiente”.